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Jornal Gazeta: O futuro da periferia no governo de Zé; Escreveu Professor José Antônio

No dia 1º de janeiro de 2017 o município de Cajazeiras terá um novo prefeito, um cidadão com experiência na vida pública no campo legislativo, agora com um desafio diferente: administrar uma prefeitura. Toda nova administração vem carregada de esperanças.

Não sei até que ponto o novo gestor conhece o município que vai administrar e para onde a cidade deve crescer. Transparência e honestidade foram os principais pontos do seu plano de governo. Que outros itens mereceriam prioridades?

Durante a campanha, como candidato a vice-prefeito derrotado, tive a oportunidade de entrar em centenas de lares, na zona urbana e rural, e conversar demoradamente com seus habitantes e nesta caminhada pude constatar que a miséria e a fome ainda campeiam em muitos destes lares, o que justificaria as oito mil famílias incluídas no programa federal “Bolsa Família”, que recebem mensalmente R$1.435.000,00. Segundo o programa estes recursos se destinam às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza.

Sabia que havia miséria e fome, mas não na dimensão que eu vi. As mazelas sociais são mais profundas do que imaginamos ao constatarmos que dezenas de jovens mulheres, com caras e falas de crianças, já se tornarem mães de um, dois e três filhos, entre quatorze e dezessete anos. Com que objetivos? Todas elas afirmaram: “para receber o abono natalidade e poder ingressar no programa Bolsa Família”.

Que perspectiva de vida tem estas jovens mães de famílias? Dentre elas, a maioria, para cada filho, um pai diferente, também muito jovem e desempregado, semi-alfabetizado e na sua maioria viciado em drogas. Diante deste cenário vi o quanto eu era desinformado desta triste realidade e se antes faltaram assistência social e orientação sexual, agora o problema se agrava ainda mais: faltam creches e programas com dimensões sociais capazes de reduzir futuros homens e mulheres à margem da sociedade.

Vi lágrimas cobrindo a face de muitas mães, provocadas pelo sofrimento de ter filho e filhas atrás das grades de um presídio como traficante de drogas e ladrões. Vi famílias completamente desestruturadas, desamparadas e dilaceradas por ter em seu seio um filho dominado pelos traficantes. Foram cenas que calaram profundamente no íntimo de minha alma, inesquecíveis, marcadas a ferro e fogo

Vi famílias morando num cubículo, sem banheiro sanitário, fazendo as suas necessidades em saco plástico e jogando fora num terreno baldio. Vi crianças brincando ao lado de esgotos a céu aberto e tendo que conviver com uma fedentina insuportável. O governo do estado tem uma obra de esgotamento sanitário para a Zona Norte que se arrasta há anos e não se tem idéia de quando será concluída.

Vi o quanto o desemprego fazem as famílias se tornarem indefesas,

sofridas, angustiadas e terem que conviver com o corte de água e luz e com o aluguel atrasado e isto provoca um mal social incalculável na estrutura da família, porque os pais migram para o corte de cana, para catar laranjas e para grandes centros onde possam trabalhar como serventes da construção civil, deixando mulheres “viúvas” de maridos “vivos” e os filhos sem a figura paterna no seio da família.

Vi mães prisioneiras, prisioneiras de filhos, que desde o nascimento vivem num leito de uma cama, talvez por falta de uma gestação não acompanhada. Faltava brilho nos olhos, mas sobrava amor no coração de cada mãe.

Quando ouvi o futuro prefeito afirmar que teremos um grande carnaval e um Xamegão maior ainda, com recursos públicos (?) doeu-me a alma, mas com a esperança de que se ele fizesse uma caminhada pela periferia da cidade, com certeza mudaria de plano.

 

Fonte : Coluna do Professor José Antônio de Albuquerque no Jornal Gazeta do Alto Piranhas

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