A diabetes é uma doença que, segundo a Organização Mundial da Saúde, afeta a mais de 16 milhões de brasileiros adultos e que mata 72 mil pessoas por ano no país. Na Paraíba, estima-se que 5,3% da população é diabética. Ou seja, 209.032 paraibanos são diabéticos. Na capital, a estimativa é de 4,7% da população, composta por 37.680 pessoenses diabéticos.
Em relação ao número de óbitos, de 2012 para cá, 8.358 pessoas morreram na Paraíba por conta do Diabetes, sendo 1.737 em 2012; 1.812 em 2013; 1.793 em 2014; 1.680 em 2015 e 1.337 em 2016. Já em João Pessoa, o total é de 1.219 mortes nos cinco anos, sendo 237 (2012); 244 (2013); 259 (2014); 251 (2015) e 228 (2016).
Apesar dos números alarmantes, ainda há muita desinformação sobre o assunto. Nesta segunda-feira (14), comemora-se o Dia Mundial da Diabetes. Mas, diferente do que muitas pessoas pensam, a doença não atinge somente as pessoas mais velhas. Crianças e adolescentes também podem ser diagnosticados, como foi o caso do estudante Ronaldo Rodrigues, de 23 anos.
Diagnosticado com diabetes em 2012, Ronaldo hoje é presidente e fundador do Grupo de Amigos Diabéticos em Ação (Gapa), que atua na cidade de Cajazeiras, Sertão da Paraíba, e também em outras cidades do Estado. Estudante dos cursos de direito e pedagogia, Ronaldo afirma ter uma vida corrida e semelhante a amigos da mesma idade, apesar de algumas restrições.
“Eu quero ser um jovem exemplo. Existe sim a restrição, mas eu quis construir a imagem que a gente tem limitações, mas consegue viver uma vida normal, desde que tenha o cuidado próprio. Não se deve deixar de viver, por conta do problema. Às vezes considero até como um amigo diário. Por isto me coloco como exemplo para juventude, implementando sempre isto, um olhar diferenciado”, disse.
Ronaldo afirmou ainda que teve que mudar alguns hábitos, mas nada tão drástico. E, segundo ele, estando com a glicemia em dia, pode fazer praticamente tudo, desde que seja com moderação.
“Mudaram algumas coisas, mas não tudo. Por conta do meu tipo de diabetes, eu não tenho muita restrição. Tenho alimentação normal, com pouco carboidrato. Eu meço a quantidade de carboidrato de cada refeição. Quando eu vou ultrapassar a cota, aí eu ajusto as dosagens. Mas não senti tamanha diferença. A maior dificuldade foi na reeducação alimentar. Trocar o refrigerante por alguns sucos, já que nem todo suco natural da fruta a gente pode tomar excessivamente. Bebida alcoólica, por exemplo, o diabético pode tomar pequenas porções desde que tenha com a glicemia em dia. Eu mesmo tomo alguns drinks, com moderação”, explicou.
Dificuldades no repasse de medicamentos
Apesar da auto-estima elevada e de conviver naturalmente com a diabetes, Ronaldo, assim como outras pessoas com a doença, afirmou que está há mais de dois meses sem receber do Governo do Estado o medicamento necessário para o tratamento, apesar de ser uma ordem judicial.
“Eu faço uso de medicação que é responsabilidade do governo do Estado. É uma insulina análoga. Antes eu precisava fazer seis aplicações por dia e hoje com esta, são apenas três diariamente. Mas estamos com dois meses sem receber, então a gente está comprando, mesmo com uma ação que determina que seja disponibilizado. A gente enfrenta uma dificuldade e tem que partir para a Justiça. Esta parte ainda é muito complicada e parece que está retrocedendo”, afirmou.
A Secretaria de Saúde do Estado afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que em “relação à insulina Lantus houve um atraso por parte do fornecedor, porém após contato da Secretaria de Estado da Saúde, o mesmo garantiu que até o dia 16 de novembro a entrega será regularizada. Quanto à insulina Novorapid e Humalog, ambas estão em processo de licitação”.
Metade dos pacientes não sabe que têm a doença e seus riscos
A Sociedade Brasileira de Diabetes afirma que metade dos pacientes não sabe que tem a doença. O consumo de alimentos com altos índices de açúcar somado ao sedentarismo são alguns dos hábitos que têm aproximado milhares de pessoas de uma doença crônica silenciosa: o diabetes. A hereditariedade, principalmente quando os familiares que têm a doença são avôs, avós, pais e irmãos, é um alerta. Outro ponto importante é o sobrepeso. Segundo dados do Ministério da Saúde, 48,5% da população brasileira está acima do peso, e a balança em desequilíbrio é um dos principais fatores de risco para o aparecimento do diabetes.
Outro ponto de desconhecimento é sobre o que a diabetes pode causar. Quase metade dos brasileiros, por exemplo, não sabe que o diabetes pode causar cegueira. É o que aponta uma pesquisa conduzida pela Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV, que analisou o grau de percepção da população com relação às complicações oculares ocasionadas pela doença. A pesquisa foi feita em oito capitais brasileiras: Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, São Paulo, Brasília e Salvador, com 4 mil pessoas.
Entre os entrevistados que não têm diabetes ou não possuem ninguém na família com a doença, 45% desconhecem a relação entre a doença e a perda da visão. Já entre os diabéticos ou que têm familiares portadores da doença, mesmo sendo a perda da visão uma das complicações mais temidas (29%), 57% nunca ouviram falar de retinopatia diabética e edema macular diabético, principais complicações oculares da doença.
“Em relação ao diabetes, já se observa níveis de epidemia no Brasil. À medida que esses números aumentam, proporcionalmente cresce o número de indivíduos que correm o risco de desenvolver essas complicações oculares”, afirma o médico endocrinologista Dr. Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.