O presidente Jair Bolsonaro (PSL) acabou assinando, ontem, a exoneração de Gustavo Bebianno do cargo de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, depois de um fim de semana de crise política que envolveu outros auxiliares da equipe, líderes políticos e filhos de Bolsonaro, sobretudo Carlos, vereador pelo Rio de Janeiro e chamado de “pit-bull” nos corredores do poder. Sem nenhum cargo no governo, Carlos, 36 anos, demonstrou força junto ao pai. Bebianno foi um dos primeiros a embarcar na candidatura presidencial de Bolsonaro, quando nem o candidato acreditava muito nas suas chances de sucesso. A origem da crise foi uma denúncia, na “Folha de São Paulo”, de que a direção nacional do PSL, no ano passado, então sob o comando de Bebianno, destinou 400 000 reais do fundo partidário a uma candidata de Pernambuco, que, apuradas as urnas, teve apenas 274 votos. A descoberta levantou a suspeita de que o partido a que Bolsonaro é filiado e pelo qual foi eleito lançou “candidaturas laranjas” na última disputa. Mas só se agravou mesmo com a entrada em cena de Carlos, que detonou Bebianno, chamando-o de mentiroso, e teve o aval do pai.
Bebianno, que é tido pela mídia como homem-bomba no Palácio do Planalto, não saiu atirando, ao contrário das expectativas na imprensa e nos meios políticos. Fez desabafos sobre ingratidões e punhaladas, acenou com o desejo de retomar a advocacia, se disse chocado com o bombardeio incessante disparado contra ele, mas não entrou em detalhes sobre o “laranjal” ou sobre a ingerência do presidente da República, que, de forma protocolar, agradeceu a “colaboração” do ex-ministro e desejou-lhe êxito em novas jornadas. Circulou em Brasília a versão de que Bebianno teria recebido oferta para ser embaixador do Brasil em Roma, o que não se confirmou. A crise indispôs políticos com os filhos de Bolsonaro, a exemplo do deputado federal pela Paraíba, Julian Lemos, que já havia sido desautorizado por Carlos através do Twitter.
De acordo com a revista “Veja”, Bolsonaro e o filho parecem ter feito questão de transformar o copo d’agua em tempestade. Dos 22 ministros, não houve quem tivesse compartilhado mais a intimidade do presidente Bolsonaro nos últimos tempos do que Bebianno. Na campanha, ele foi o assessor número 1, uma espécie de faz-tudo do candidato. Planejava a infraestrutura, definia estratégias, cuidava da parte financeira, aparava arestas, decidia quem podia e quem não podia falar com o presidenciável. Antes disso, na condição de advogado, ganhara a confiança do então deputado Jair Bolsonaro ao se oferecer para defendê-lo de graça de uma acusação de homofobia. Bebianno estava sempre tão próximo ao candidato, revela a matéria da “Veja”, que por causa do seu porte físico avantajado, não raro era confundido com um segurança. Faixa-preta de jiu-jitsu, é chamado de “cão de guarda”. O apelido nunca o incomodou. No governo, ganhou o cargo de secretário-geral da Presidência, o que lhe deu o valoroso status de trabalhar dentro do Palácio do Planalto, perto do presidente.
Ao ser apanhado no centro do furacão, Bebianno passou a dizer que não entendia a virulência com que vinha sendo atacado e a facilidade com que foi abandonado pelo presidente Jair Bolsonaro. Deflagrou, então, um jogo de empurra, no qual deixou claro que não iria pedir demissão, deixando a tarefa para o presidente, de preferência “face a face” e com explicação justificada dos motivos. As rusgas entre Bebianno e Carlos Bolsonaro explodiram já na campanha eleitoral, pela típica disputa de poder. Bebianno tinha carta branca de Bolsonaro para tomar as decisões mais delicadas. Carlos, que sempre tinha um palpite a dar sobre tudo, era tratado com certo desdém. Quem mandava era o “cão de guarda”. A turma de Bebianno espalhava, com maldade, que por causa do papel secundário, Carlos se limitou a cuidar das redes sociais da família e na maior parte do tempo ficava sentado junto do pai, armado com um revólver e segurando no colo Pituka, uma poodle. Vencida a eleição, apesar da resistência de alguns militares que chegaram a vetar sua participação em reuniões, Bebianno assumiu posto no palácio e Carlos, que pleiteava comandar a Secretaria de Comunicação, ficou sem cargo no governo e culpou Bebianno, até que na semana passada viu a chance para dar o troco ao desafeto. A opinião dominante em Brasília é de que Bolsonaro administrou de forma familiar e amadorística a crise, demonstrou falta de pulso em relação ao filho, não obstante os problemas que ele cria, até por ter uma personalidade cheia de arestas, e deu a largada para desmonte de um partido que lhe foi extremamente útil para ancorar sua candidatura finalmente vitoriosa à presidência da República contra Fernando Haddad, do PT.
Nonato Guedes, com agências